Antero Q bilhetes e Datas
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O texto de Ana Rocha, Antero Q, modula uma série de aspectos da vida do poeta Antero de Quental, figura emblemática da modernidade em Portugal. Partindo de situações biográficas, a obra ensaia, todavia, um trabalho ficcional, que a encenação procurou relevar. Três eixos dramatúrgicos despontam no espectáculo Antero Q: o confronto com a ciência, o confronto com a política e o confronto com o amor. Antero desdobra-se em esforços para resolver os seus problemas de saúde, a somatização das suas angústias e traumas, consultando o Dr. Charcot; este recomenda-lhe a estadia numas termas, onde possa praticar uma vida sadia. No ínterim, o seu empenho político leva-o a um encontro com o revolucionário Blanqui, que contrapõe ao modelo moderado de Antero, a radicalidade extremista. Por fim o encontro amoroso, antes do desenlace final, com a Baronesa Nelly, em que prova a paixão amorosa sem a conseguir consumar. Antero Q representa angústias que se expressam nos dias de hoje, com uma ressonância evidente: seja na fetichização da ciência como panaceia para todos os males; na anomia de um tempo político em que o incómodo com a vida presente, coexiste com a incerteza acerca da vida que se projecta, fornecendo pasto a todas as derivas incendiárias; seja, por fim, no colapso da vida íntima; na impossibilidade de amar por desagregação de referências que possam situar a personagem numa perspectiva positiva, acabando por surgir o argumento da morte como uma quimera salvífica.
Em suma, o espectáculo Antero Q, representa a doença de um tempo em mudança, um tempo angustiante, difícil, em que a personagem charneira, o poeta Antero, o “esplendoroso”, manifesta uma combatividade e um querer que são sinónimos de uma resistência inabalável. Repete Antero: “ A loucura é de todos os tempos, mas eu não estou louco!” E nós? Sobreviveremos à loucura dos dias de hoje? Oxalá!
FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
Texto: Ana Rocha
Encenação: Carlos J. Pessoa
Cenografia: Herlandson Duarte
Música e Vídeo: Daniel Cervantes
Desenho e operação de Luz: Alice Braziel
Figurinos: Herlandson Duarte
Interpretação: André Pardal, Anette Naiman, Guilherme Gomes, Rafaela Jacinto
Estagiário FLUL: Afonso Farinha
Fotografia: Vitorino Coragem
Comunicação: José Grilo
Direção de Produção: Raquel Matos
Produção Executiva: Mafalda Ferraz
CRIAÇÃO Teatro da Garagem
Apoios Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
Financiamento Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura
Mais informações:
218 854 190 | 924 213 570
producao@teatrodagaragem.com
PROMOTOR: Teatro da Garagem